"A arte é uma magia que liberta a mentira de ser verdadeira" Theodor Adorno

sábado, 24 de novembro de 2012

Filme: Um Bonde Chamado Desejo VS Uma Rua Chamada Pecado



Não se assuste, é a mesma história. Acontece que a peça foi censurada no Brasil, e como forma de driblar os censores da época, a distribuidora do filme “modificou” o nome um pouquinho, deixando, é claro, o título nada a ver com a história.

O tal Bonde
Porque nada a ver com a história? 
Simplesmente porque o título original possui um bonde chamado Desejo, que é o que traz Blanche à casa de Stanley e Stella. Não existe rua chamada Pecado. Para não haver confusão, referiremos-nos à obra pelo título em inglês.

A Streetcar Named Desire conta a história de uma professora de inglês, Blanche DuBois (Vivien Leigh), alcoólatra, que ao chegar na casa de sua irmã, Stella (Kim Hunter) e o marido Stanley (Marlon Brando) tem sua saúde levada ao extremo.

Marlon Brando, Vivien Leigh e Kim Hunter. 
Nesse filme todas as atuações são perfeitas. Sério. Os quatro atores principais foram indicados ao Oscar, e Vivien Leigh, Kim Hunter e Karl Malden ganharam. O diretor e o filme também receberam suas indicações. Já havendo dirigido a peça na Broadway, com todo o elenco do filme, exceto por Vivien Leigh, que substituiu Jessica Tandy, Elia Kazan fez um trabalho primoroso.

Vivien Leigh, para quem conhece a história desta, já havia encantado o mundo como Scarlet O’Hara em ...E O Vento Levou, de 1939, encontrou em Blanche DuBois sua nêmeses. Vivien mergulhou tão fundo no papel que, segundo o marido Sir Laurence Olivier, que a havia digirido na montagem da peça em Londres, Blanche DuBois havia destruído sua vida. E  segundo ela mesma "Blanche DuBois é uma mulher da qual tudo foi arrancado, uma figura trágica e eu a entendo, mas interpretá-la me fez mergulhar na loucura." Sendo bipolar, o papel não fez bem algum à saúde de Vivien.  A partir daí, sua saúde mental só tendeu a piorar.

Blanche, o que foi?
Mas deixando de lado os bastidores, que são enormes, voltemos às semelhanças e des, entre peça e adaptação.  A peça possui grande contexto homossexual, já que grande parte da situação de Blanche foi causada pelo jovem com a qual se casara e que mais tarde descobriu-o com outro homem. Ao ficar acusando-o, ela o levou a dar um tiro na própria cabeça. No entanto, na época do filme, em 1951, imperava ainda o famoso Código Hays, que censurava as produções cinematográficas, em nome da família e bem estar social. Além de grandes cenas do filme terem sido cortadas e seu lançamento, a sexualidade do marido de Blanche é disfarçada, não citada, o motivo que a leva a estar ali, é citado em meio a metáforas e outras figuras de linguagem, enquanto que na peça é dito claramente.

Stella! Stella!
As cenas que foram retiradas foram adicionadas recentemente, e podemos ver através delas, uma sexualidade não vista no cinema da época, como as cenas em que Stanley chama por Stella, na clássica, “Stella, Stella” e ela vem ao encontro dele, e o agarra. No restante, o filme se atém ao texto de Tennessee Williams, ocorrendo apenas algumas adaptações devido à censura.

Sem dúvida o filme é de Blanche. Blanche e Vivien Leigh. A moça frágil, sem dinheiro, que destrói seu grande amor por despeito, alcoólatra, mentalmente desequilibrada, e ainda por cima afrontada por aqueles que não a compreendem. Pertencente à uma época que não existe mais, a época dos cavalheiros e das damas. Como Blanche/Vivien diz ao final: “Eu sempre dependi da bondade de estranhos”, porque você só é compreendido por aqueles que não te conhecem.

Stanley, o que você está fazendo com a pobre Blanche?

Vale a pena assistir. E para entender melhor o personagem que é Blanche, leia esse maravilhoso artigo escrito pela Carla Marinho, do Cinema Clássico: Sobre Blanche DuBois

PS.: Esse livro faz parte do clube do livro, cuja resenha será publicada no último dia de novembro. Aguarde para conhecer melhor a história.

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