HAPPY: Ele quer apenas seu bem, isso é tudo.
Eu queria
conversar sobre papai com você faz um tempo, Biff.
Alguma coisa está —
acontecendo com ele. Ele — fala sozinho.
(MILLER. Morte de um Caixeiro Viajante, pag. 21)
A peça de teatro Morte de um Caixeiro Viajante (Death of a Salesman), de Arthur Miller, foi lançada em 1949. O livro aborda as relações familiares, a preocupação com o que o mundo exterior pensará das ações de cada integrante da família e a ilusão de ser alguém amado e respeitado por todos.
O casal Willy
e Linda Loman está enfrentando problemas. Inicialmente, esse problema está em
Willy e em sua perda de sanidade. Agora ele anda falando sozinho, lamentando o
fracasso de seu filho Biff, e seu amor por ele é mascarado pelo remorso. Biff
foi embora da casa dos pais há algum tempo pois seu Willy passou a tratá-lo mal
por não conseguir bons empregos. Em conversas entre Biff e seu irmão Happy, é
possível perceber que Biff gostaria de se relacionar melhor com o pai, que ele
o ama e se preocupa, porém é sempre uma luta quando tenta se aproximar. Já Happy
é o irmão que, apesar de estar presente em quase todas as cenas, não é muito
notado. Happy diz as novidades e a família sempre o ignora. A atenção é toda
para Biff. Isso é um pouco revoltante, até porque quem está o tempo todo com os
pais é Happy.
BIFF: Bem, eu passei seis ou sete
anos depois do Ensino Médio tentando me ajustar. Despachante, vendedor,
negócios de todas as formas; e é uma forma desprezível de viver. Pegar o metrô numa
manhã quente no verão. Devotar toda a vida a manter estoque, ou fazer ligações,
ou vender e comprar. Sofrer cinquenta semanas do ano por causa de duas semanas de
férias, quando o que você realmente deseja é estar ao ar livre, sem sua camisa.
E sempre ter que chegar à frente do seu companheiro. E assim — é deste modo que
você constrói um futuro.
(MILLER. Morte de um Caixeiro Viajante, pag. 22)
Com o
decorrer da história, Willy começa a imaginar quando os seus filhos eram
pequenos. Aí temos Biff e Happy brincando de jogar bola, e Willy dando muita
atenção ao primeiro. Bernard, filho do vizinho, vai até a casa da família
central e avisa Happy que Biff precisa ir fazer o teste de matemática, se não
irá repetir na escola. Pai e filho ignoram o garoto que apenas queria o bem
para seu amigo. Mas este fato é o que fica atrapalhando o relacionamento futuro
dos dois. Porque este pequeno e aparentemente inútil fato transforma Biff em
alguém que não consegue bons empregos. E, sendo assim, seu pai se angustia.
Willy é um
vendedor iludido. Ele pensa que muitas pessoas se preocupam com ele e é muito
popular. É por essa ilusão que há uma pressão para Biff ser perfeito. Pai e
filho não trocam muitas palavras durante toda a peça, mas sim com os outros
personagens, de modo que o leitor fica ansioso para saber como eles irão lidar
quando resolverem conversar. O resultado, devo dizer, é angustiante. Quando
Linda está em cena, tive até pena dela ao falar do marido. Ela, apaixonada por
ele, e ele com problemas de perda de sanidade – um homem amargo, egocêntrico
que queria ser amado por todos e não percebia que sua família nutria um imenso
amor por ele.
O nome da
peça (Death of a Salesman) se deu
porque Willy conta porque decidir
ser vendedor. A razão é que em sua
adolescência ele conheceu um homem que fazia este tipo de trabalho. Este homem
ligava para muitas pessoas e as pessoas ligavam para ele. Willy viu isso como
“o homem popular amado por todos”, e passou a pensar que isso ocorria com todos
os vendedores.
Death of a Salesman, de Arthur Miller |
Não gostei
muito do livro. Li-o em inglês e sei que deixei passar muita coisa, e talvez
por isso tenha perdido a emoção. Senti-me mal quando Linda ficava dizendo que
Willy era um homem bom e no final ele me decepcionou muito. Ele é aquela pessoa
que quer muito ser amado mas que nunca mostra que ama as outras pessoas. Gostei
do Biff, porque ele era sincero e consegui sentir seu desgosto por causar
tantos problemas para sua família – problemas do tipo “tempestade num copo
d’água”. Happy foi outro personagem que gostei, assim como Linda, mas que me
deixavam triste por serem tão importantes para a trama e na história não serem
tratados assim.
O livro, uma das obras mais famosas do dramaturgo Miller, ganhou o Pulitzer e três Tony's.
O livro, uma das obras mais famosas do dramaturgo Miller, ganhou o Pulitzer e três Tony's.
LINDA: (…) Eu
sei cada pensamento da mente dele.
Isso pode parecer antiquado e bobo, mas eu
digo
a você, ele colocou toda sua vida em suas mãos e você virou
as costas para
ele. (…) Biff, eu juro por Deus!
Biff, a vida dele está em suas mãos!
(MILLER. Morte de um Caixeiro Viajante, pag. 60)
Em 1951 foi
lançado o filme desta obra. Dirigido por Laslo Benedek, modificado por Stanley
Roberts e estrelado por Fredric March como Willy Loman, Mildred Dunnock como
Linda, Kevin McCarthy como Biff e Cameron Mitchell como Happy. O filme foi
indicado ao Oscar: March por Melhor Ator, McCarthy por Melhor Ator, Dunnock por
Melhor Atriz Coadjuvante, Franz Planer
por Melhor Cinematografia Preto e Branco e Alex North por Melhor Música
e ganhou os Globo de Ouro por Melhor Cinematografia, Melhor Diretor, Melhor
Ator de Drama para Fredric March e Ator Promissor para Kevin McCarthy, além de
outros prêmios. A peça também atingiu a TV, em 1985, desta vez o filme dirigido
por Volker Schlöndorff, com roteiro modificado pelo autor Arthur Miller, e
estrelado por Dustin Hoffman como Willy, Kate Reid como Linda, John Malkovich
como Biff, Stephen Lang como Happy. Recebeu o Globo de Ouro por Melhor Ator para
Dustin Hoffman e foi nomeado por Melhor Filme, Melhor Atriz para Kate Reid e
ganhou 3 Emmy’s.
WILLY: (…) Eu percebi que ser vendedor era a
melhor carreira
que um homem poderia querer.
Por que o que seria mais satisfatório a poder ir,
na idade
de oitenta e quatro anos, em vinte ou trinta cidades diferentes,
e
pegar um telefone, e ser lembrado e amado e ajudado por tantas pessoas?
(MILLER. Morte de um Caixeiro Viajante, pag. 81)
Escrito por MsBrown