Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou
estrategista, batalhadora,
porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico
terna, delicada.
Acho que sou promíscua, doutor Lopes. São muitas mulheres numa
só,
e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia de grupo.
(MEDEIROS, Martha. Divã, pag. 11)
Divã é a primeira novela escrita por Martha Medeiros,
lançada em 2002. Consagrada pela crítica, recebeu os seguintes elogios da
autora Lya Luft: “Gosto demais do que Martha escreve: toca em sentimentos sem
ser sentimentaloide, é bem-humorada sem ser superficial, é irônica sem ser
maldosa.”
Divã conta a história de Mercedes, uma mulher com mais de
40 anos que procura a psicanálise. É casada, tem filhos, é professora
particular de Matemática e parece viver uma vida comum, uma vida pacote de
classe média, onde tudo aparentemente acontece sem novidades, sem exageros, sem
grandes emoções. Mercedes quer se entender, quer dar a voz à mulher que existe
dentro dela, que é mais ousada, mais faminta por novas vibrações. Lopes é seu
psiquiatra, o homem a quem dirige todas as falas, que a ajuda a raciocinar quem
é a Mercedes que quer se mostrar ao mundo.
Não estou vivendo perigosamente. Troque o
perigosamente por intensamente, inconsequentemente, apaixonadamente. Não há
perigo. Perigoso é a gente se aprisionar no que nos ensinaram como certo e
nunca mais se libertar, correndo o risco de não saber mais viver sem um manual
de instruções.
(MEDEIROS, Martha. Divã, pag. 61)
Divã, de Martha Medeiros |
Divã possui uma narrativa muito especial: nos leva ao
consultório do psiquiatra Lopes, nos permite relaxar numa poltrona e ouvir o
que essa mulher tem a dizer sobre sua vida. Conheci o filme primeiro e por ter
gostado tanto, fiquei muito feliz ao saber que tinha sido originado a partir de
um livro, que finalmente tive a oportunidade de ler na íntegra. Apesar de ser
sobre uma mulher com seus 40 anos, é um livro sobre experiências e, portanto, várias
faixas etárias podem aprender/refletir sobre o que foi escrito.
Divã foi adaptado para o teatro e depois cinema, em 2009, com o filme homônimo, estrelado
por Lilia Cabral, José Mayer como Gustavo, Alexandra Richter como Mônica e dirigido por José Alvarenga Jr. e para a televisão, todos com Lilia Cabral.
Vidas não são entregues em kits personalizados,
compostos
por dois sonhos, meia dúzia de projetos e uma única maluquice:
essa
costuma ser a munição que cada pessoa recebe ao nascer,
para que a ordem seja
mantida na sociedade. Eu aceito a parte que
me toca, mas ninguém me impede de
incrementar o dote.
(MEDEIROS, Martha. Divã, pag. 168)
Escrito por MsBrown