A morte de minha mãe me encheu a vida inteira
de uma
melancolia desesperada. Por que teria sido com ela tão
injusto o
destino, injusto com uma criatura em que tudo
era tão puro? Esta força
arbitrária do destino ia fazer
de mim um menino meio cético, meio atormentado
de visões ruins.
(REGO, José Lins do. Menino de Engenho, pag. 36-37)
Menino de Engenho, de José Lins do Rego, é narrado em primeira
pessoa, por um menino de engenho, Carlinhos. Faz parte da série que o autor chamou de Ciclo da Cana de Açúcar (que compreendem os livros Doidinho (1933), Bangüê (1934), O Moleque Ricardo (1935) e Usina (1936). O livro começa triste e devo
confessar que seu início me chamou muito a atenção. Eu até esperava que a
história seguisse neste rumo…
Menino de Engenho, de José Lins do Rego |
Não me lembro bem porque peguei
este livro para ler. Acho que o título me lembrou algo da minha infância,
talvez um livro que eu já vira antes ou uma resenha… Enfim, o fato é que li. No entanto, não
me identifiquei com a narrativa, com os acontecimentos, com o jeito de o autor
deixar a sua história ocorrer. Em primeiro lugar, o livro começa quando
Carlinhos tem uns quatro anos, e termina quando ele tem doze. Pareceu-me muito
improvável que os detalhes descritos fossem lembrados por uma criança, com
tanta riqueza e com tantos nomes e fatos aleatórios. Segundo, não há um enredo
específico. O narrador apenas nos conta o que passa por sua cabeça, o que se
lembra, sem nenhum propósito final.
A mãe de Carlinhos é assassinada
por seu marido, que vai para o sanatório. Carlinhos, com então apenas quatro anos de idade, vai morar na
casa do avô, José Paulino, um senhor de engenho da Paraíba, e as narrações são acerca da vida no
engenho. Das pessoas, do próprio Carlinhos, de seus amores, suas libertinagens…
José Lins do Rego mostra Carlinhos e sua relação com os negros, com seus subordinados,
sua visão de menino que recebe cuidado excessivo mas que quer apenas a
liberdade que outros gozam.
Perdera a inocência, perdera a grande
felicidade de
olhar o mundo como um brinquedo maior que os outros.
Olhava o
mundo através dos meus desejos e da
minha carne. Tinha sentidos que desejavam
as botas do
Polegar para as suas viagens.
(REGO, José Lins do. Menino de Engenho, pag. 146)
É um tanto difícil descrever um
livro assim. Apesar de eu não ter gostado do livro, vez ou outra havia
elementos com os quais eu conseguia me simpatizar. De algum modo, o romance é
sensível, sincero… Eu recomendo a aquelas pessoas que não se importam em ler
uma história com várias outras histórias embutidas. Sim, porque não havia um
foco. Um problema. Havia vários, a todo instante. Talvez seja isso, afinal, num
engenho não se espera que haja apenas um fato marcante.
Em 1965, foi lançado o filme com mesmo nome, dirigido por Walter Lima Jr. e estrelado por Sávio Rolim como Carlinhos e Rodolfo Arena como José Paulino. Pelo romance, seu primeiro publicado, José Lins do Rego recebeu o prêmio da Fundação Graça Aranha e contribuiu para o moderno romance brasileiro, tendo como bagagem também a crítica de João Ribeiro:
"Bem examinadas as coisas, este livro pungente é de uma realidade
profunda.
Nada há nele que não seja o espelho do que se passa na
sociedade rural
e na das cidades do Norte e do Sul do Brasil. É de todo o Brasil
e um pouco de todo o mundo."
João Ribeiro
Escrito por MsBrown
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