Fazia algum tempo que eu queria
ler O Retrato de Dorian Gray (The Picture of Dorian Gray), de
Oscar Wilde. De início, além de o título ter me chamado a atenção, eu já tinha assistido ao filme estrelado por Ben Barnes e Colin Firth e dirigido por Oliver Parker. A ideia de que o retrato de uma
pessoa mostraria sua alma e a pessoa em si continuasse com a aparência de
quando foi pintada me pareceu incrível. Então quando finalmente comecei a ler a
obra, único romance escrito por Oscar Wilde, minhas expectativas eram enormes. Felizmente, não me decepcionei.
‘(…) Não o estrague. Não o influencie. Sua
influência seria má. O mundo é grande, e há muitas pessoas maravilhosas nele. Não
tire de mim a pessoa que dá à minha arte o charme que ela possui; minha vida
como um artista depende dele.’
(WILDE, Oscar. The Picture of Dorian Gray, pag.13)
A história se passa na Inglaterra
e Dorian Gray é um jovem belíssimo e inocente. Basil Hallward é um pintor que
introduz Dorian a Lord Henry Wotton, um dos personagens mais marcantes. Basil
faz sua obra de arte: pinta Dorian Gray tão perfeitamente que Dorian acaba por
desejar que ele fique para sempre jovem e bonito e a pintura envelheça no lugar
dele. Henry idolatra a beleza do jovem, assim como todo mundo, mas é um
manipulador. Ele consegue convencer a quase todos a sua volta acerca de suas
teorias. Dorian é o que, apesar de sempre falar que Henry diz coisas terríveis,
faz o que ele diz. Henry é a porta para Dorian fazer tudo o que imagina fazer,
sem escrúpulos.
O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, versão da Collins Classics |
Quando Dorian percebe que seu
desejo se realizou, ele também percebe que a pintura é sua consciência. Mas não
é visível (ele trancou a pintura num lugar onde ninguém pode ver), o que o
permite fazer o que quiser sem pensar nas consequências ou na moral. Mas até
que ponto ele se deixará levar? Até quando as pessoas vão aceitar que ele é
apenas um jovem lindo que permanece sempre com a mesma aparência?
‘Eu tenho inveja de
tudo cuja beleza não morre. Eu tenho inveja do retrato que você pintou de mim. Por
que isso deveria manter o que eu devo perder? Cada momento que passa leva algo de
mim e acrescenta algo a mim. Oh, se fosse o contrário! Se a pintura pudesse
mudar, e eu pudesse sempre ser o que sou agora! Por que você pintou isso?’
(WILDE,
Oscar. The Picture of Dorian Gray,
pag. 25)
No começo eu achei as reações de
Dorian muito infantis. Muito melodramáticas. Com o passar da história, isso
diminuiu. Se ele continuou dramático não foi em vão — ele tinha os porquês. Uma
das cenas mais marcantes foi quando ele declarou ao Basil e ao Henry que estava
apaixonado por Sibyl Vane, uma atriz que a cada noite vivia uma personagem de
Shakespeare, então Basil e Henry foram ao teatro ver essa pessoa tão artística
que tinha conquistado o coração de Dorian. Nesta noite, de tão apaixonada que
estava, Sibyl não representou sua personagem bem, o que não impressionou os
amigos de Dorian e o deixou muito decepcionado com ela. Conclusão: ele declarou
que nunca mais a queria ver, e que não a amava mais. Cena interessante, não?
Henry é um dos personagens mais
instigantes da história. Cada fala dele é uma teoria, uma análise do mundo. Ele
exalta as ações que a sociedade julga inaceitáveis e vive conforme a sociedade.
Basil é seu oposto. Apesar de ambos compartilharem a fascinação pela aparência
de Dorian, Henry quer vê-lo dar ouvidos aos seus desejos — seja quais forem —,
e Basil quer que o jovem apenas seja bom.
Sim; ele tentaria ser
para Dorian Gray o que, sem saber,
o jovem era para o
pintor que fez o maravilhoso retrato.
Ele procuraria dominá-lo
— já tinha, de fato, feito isso.
Ele faria dele aquele
esplêndido espírito.
Havia algo fascinante
no filho do Amor e da Morte.
(WILDE, Oscar. The Picture of
Dorian Gray, pag. 35)
As cenas foram muito bem escritas
e cativantes — com exceção de um capítulo que achei insuportável de ler: mas
como eu li o livro em inglês (The Picture of Dorian Gray), pode ser que essa aversão ao capítulo tenha se
dado porque eu não estava entendo muito e, do que entendi, ali tinha escrito
coisas desnecessárias. De qualquer modo, eu recomendo o livro, com certeza.
Após terminar a leitura, dei uma
olhava nas primeiras páginas que vieram com extras sobre a obra e descobri que O Retrato de Dorian Gray pode ter sido
uma autobiografia. Primeiro é dito que o retrato é como um confessionário dos
católicos: o retrato absorve os pecados de Dorian assim como o padre no
confessionário, para que as pessoas possam continuar com suas vidas. Segundo é
dito que o livro foi como um “aviso” para o próprio Wilde: que sua maneira de
viver talvez fosse levá-lo a um fim não muito agradável (ele foi envolvido em
vários escândalos devido a sua homossexualidade ser considerada, em seu tempo,
um crime).
Ah, lembrando daquele filme… pois
é, o Dorian é loiro no livro. No filme, bem… E aquele final — que final foi
aquele? Lembrando que estou falando do filme que foi lançado em 2009. Aquele que foi lançado em 1945 recebeu o Oscar de Melhor Cinematografia Preto e Branco e foi indicado por melhor atriz coadjuvante para Angela Lansbury (que recebeu o Globo de Ouro na mesma categoria) e Melhor Direção de Arte.
‘Não, Harry. A alma é uma realidade terrível. Ela pode ser comprada, vendida, trocada.
Pode ser envenenada, ou aperfeiçoada. Há uma alma em cada um de nós. Eu sei disso.’
(WILDE,
Oscar. The Picture of Dorian Gray, pag.
215)
Escrito por MsBrown
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