MARTHA(...) Nós choramos o tempo todo, e depois que choramos,nós pegamos nossas lágrimas e as colocamos numa caixa de gelo,nas malditas bandejas de gelo (Começa a rir) até que elas fiquemcongeladas (Ri ainda mais) e depois... nós as colocamos... em nossos...drinks. (ALBEE. Pag. 185-186)
Quem Tem Medo de Virginia Woolf (Who's Afraid of Virginia Woolf?) é uma memorável peça de teatro, escrita por Edward Albee em 1962. Com três atos, quatro personagens e o cenário da sala de estar, essa obra simples ganhou, em 1963, o prêmio Tony de Melhor Peça e em 1962-1963 foi considerada Melhor Peça pela New York Drama Critics Circle Award.
Capa da peça aqui resenhada |
George e Martha são casados há bastante tempo. Ele é professor de História na universidade e ela, filha do reitor. Ao voltarem tarde duma festa, que o pai de Martha realizou, eles começam a trocar insultos e a beberem, mesmo cientes de que as visitas logo chegarão. O comportamento de George muitas vezes é condescendente, paciente, mas cheio de mágoa em relação à humilhação sofrida por causa de sua mulher, que grita e diz tudo o que vem pela cabeça.
O casal Nick e Honey chegam e logo percebem a tensão dos anfitriões. Com isso, preferem entrar no "jogo" e passam a beber também. Nick é o novo professor de Biologia na universidade, e é um homem bonito. Honey é delicada e orgulhosa pelo marido. Fica bêbada tão depressa que não percebe que Martha está flertando com Nick - isso não passa despercebido por George.
Martha sempre está a humilhar George, e ele a responde sagazmente. É como se ela estivesse pedindo por sua atenção, e nunca se cansasse. E ele, estando ciente disso, fingisse despreocupação. Há cenas sombrias, nos "jogos da verdade" que George incita, e os diálogos demonstram que os personagens nem sempre estão sendo sinceros. George e Martha falam bastando do seu suposto filho que fará aniversário no dia seguinte. Nick e Honey ficam escandalizados com a atitude dos anfitriões, porém eles mesmos acabam confessando seus segredos de casal...
GEORGEHá areia movediça aqui, e vocês serão arrastados (...)Antes de perceberem, sugados para baixo (...)Você me enoja, no princípio, e você é um filho da puta presunçosopessoalmente, mas estou tentando te dar um kit de sobrevivência.VOCÊ ME OUVIU?(ALBEE. Pag. 115)
O título é um trocadilho com a canção do desenho animado da Walt Disney, Os Três Porquinhos, de 1933, e com o nome da escritora britânica Virginia Woolf. Como todos os personagens possuem um vínculo financeiro com os pais (das mulheres), isso demonstra que suas atitudes são pouco adultas. Juntando Virginia Woolf, escritora que queria que revelar a verdade das experiências humanas, os casais aqui tinham medo da realidade, de confessar as verdades. Quem Tem Medo de Virginia Woolf é uma peça com apenas quatro personagens com medo similares; ao se embebedarem, eles acabam misturando realidade e fantasia, e isso pode deixar o leitor confuso, porém, no final, basta entender que são dois casais - um de longa data e outro recém-casado - que nunca tiveram que explorar o mundo por si mesmos, agindo até como crianças medrosos do lobo mau, ou seja, da verdade que se encontra nos escritos da Virginia Woolf.
O filme, estrelado por Elizabeth Taylor e Richard Burton |
Deste livro foi lançado o filme de mesmo nome em 1966, com roteiro de Ernest Lehman, dirigido por Mike Nichols (seu primeiro filme) e estrelado por Elizabeth Taylor, no papel de Martha, Richard Burton como George, George Segal como Nick e Sandy Dennis como Honey. O filme foi o primeiro a ter o elenco principal e todas as categorias elegíveis ao Oscar de 1967, ganhando os de Melhor Atriz para Elizabeth Taylor, Melhor Atriz Coadjuvante para Sandy Dennis, Melhor Fotografia preto-e-branco e Melhor Figurino. Na época, Elizabeth Taylor e Richard Burton eram casados e os tabloidos anunciavam bebedeiras e brigas do casal. O filme recebeu o BAFTA de 1967, em Melhor Filme de Qualquer Origem, Melhor Atriz Britânica para Elizabeth Taylor, Melhor Ator Britânico para Richard Burton e faz parte da lista dos 100 melhores filmes pela AFI.
Como assisti o filme primeiro, quando li a versão em inglês já tinha os rostos dos personagens em minha cabeça. Em nada me decepcionaram. Gostei tanto do filme quanto do livro. Posso dizer que a única diferença entre eles é que, no livro, o cenário é a casa, e no filme eles até se deslocam a mais um cenário. Ler em inglês foi um passo muito importante no meu crescimento, pois foi o primeiro livro adulto que li na língua estrangeira. A linguagem das peças sempre são claras, rápidas, e isso vem me conquistando cada vez mais. Às vezes uma peça proporciona mais emoção do que os romances que indicam cada passo dos personagens.
MARTHA (Imita um sotaque)Awww, esse refúgio que pegamos quando a irrealidade do mundopesa demais nas nossas pequenas cabeças. (Voz normal novamente)Relaxe; entenda isso; você não é melhor que ninguém.(ALBEE. Pag. 187-188)
Escrito por MsBrown
Olá!
ResponderExcluirJá ouvi falar da obra, mas nunca li nada tão detalhado sobre. Muito bacana saber que você o apreciou em inglês... essa vantagem te dá a oportunidade de conferir outras onras que não são traduzidas e tudo mais... *-* muito bacana!
Enfim... adorei a postagem!
Um abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br/
Obrigada! Se tiver a oportunidade de lê-lo, eu recomendo!
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