Livro estreante de A. L. Savioli, autora
que nasceu em 1992 publica pela Novo Século esta obra instigante. Platônico me surpreendeu. Além de ter
essa felicidade imensa ao tocar o livro logo que chegou pelos correios, não
consegui largá-lo quando comecei a ler e assim terminei em apenas um dia. E agora
tenho saudade dos personagens que me fez sentir tantas emoções misturadas.
Publicado em 2012, Platônico, sob o Selo Novos Talentos da Literatura Brasileira |
A. L. Savioli escreve de modo simples e
honesto, e conduz a história sempre surpreendendo. Platônico mereceu um narrador misterioso que, ao desenrolar o
enredo, você acaba se perguntando se não está distorcendo horrivelmente a
verdade, mas então passa a nutrir um sentimento de empatia pelo mesmo. Ele confessa,
ainda no prólogo, que muito do que escreveu foi imaginado, por falta de
detalhes ditos das pessoas envolvidas. Não quer que a história dessas pessoas
passe em branco e cria esse relato. Em dado momento do livro, pensei que eu
poderia estar adivinhando o final. Que o misterioso narrador estivesse
aproveitando de uma simples verdade para contar a história onde ele seria o herói.
E não poderia estar mais errada. Estive
completamente errada ao pensar isso. Já
disse que A. L. surpreende?
A. L. Savioli |
O narrador oferece a visão do homem que,
como o próprio primeiro capítulo diz, cometeu um simples erro. A cena imaginada leva um professor de Filosofia,
Henrique, a aceitar passar a noite na casa de sua aluna, Sophia. Por essa
estranha situação, sua vida muda para sempre.
Henrique tem quarenta anos, é casado com
Susan e tem uma filha adolescente. No primeiro capítulo, seu carro quebra à
noite na escola e, sem dinheiro, acaba aceitando o pedido da aluna Sophie (dezessete
anos) para dormir em seu apartamento. No entanto, apesar de ser impróprio este
tipo de relacionamento entre professor e aluna, Henrique apenas dorme no sofá-cama,
separado da aluna por um guarda-roupa.
Estranhamente, esconde este fato da
esposa quando volta finalmente à sua casa. Quando descobre segredos sobre sua
família, este homem que sempre acreditou no amor pensa que nunca poderá amar
ninguém além da esposa. Num ato cheio de culpa — não o suficiente para fazê-lo
parar —, Henrique se consola com Sophie. Um
simples erro desencadeia uma série de
erros que o professor, mesmo culpando-se, não consegue resistir. E, para piorar
sua vida, Sophia alega que o ama incondicionalmente, mas não quer nada em
troca, a não ser aproveitar cada dia. Henrique tem plena consciência de seus
atos egoístas e carnais, mas a dor que sofre com seu próprio casamento o faz
buscar consolo com alguém que o ama.
— Sophia não fala com
ninguém. Sophia não conversa com ninguém, nem comigo. Sophia só fala com você. E
quando fala, se abre, e seu corpo parece mudar, e seus olhos brilham. Sophia lhe
ama.
(SAVIOLI, pag. 77)
Envolvido nessa relação criminosa,
Henrique acaba descobrindo hematomas na garota e fica preocupado, pois ela não
dá explicações sobre isso. A desconfiança é enorme. Ele se pergunta se ela não confia
nele. O amor platônico de Sophia começa a causar dúvidas em Henrique. Ela realmente
o ama? Será que foi ele mesmo que, num ato cego de amor possessivo, a espancou?
— Foi a vida, Henrique.
A vida me bateu com força.
SAVIOLI, pag. 127
Mas o desfecho é inesperado, como já
adiantei. O modo como o narrador lida com situações comuns como traição, amor
platônico e envolve personagens que alegam que o caso é pedofilia é
interessante e instigador. Fui compelida durante cada página a conhecer um
pouco mais essas mentes comuns, um tanto perturbadas com a vida.
Se há algum ponto negativo, é a sinopse. Claro que é interessante a ponto de fazer muitas pessoas querer ler o livro, porém as situações ali demoram um pouco para acontecer na história. Em dado momento, percebendo que faltavam poucas páginas, pensei que era "propaganda enganosa", mas então foi se desenvolvendo o esperado. Acredito que o tamanho foi o ideal, porém algumas partes poderiam ter acontecido antes.
De início, o enredo pode soar estranho, mas é justamente sobre isso que o livro quer batalhar. Caso de pedofilia? O que vem por trás do que enxergamos? Quais os sentimentos embutidos nessas pessoas que conviviam conforme as regras e, depois de um acontecimento inusitado, passam a se desgarrar daquilo que a sociedade prega?
Platônico, em suas 231 páginas, tem muito a contar. O livro acaba, a história continua.
De início, o enredo pode soar estranho, mas é justamente sobre isso que o livro quer batalhar. Caso de pedofilia? O que vem por trás do que enxergamos? Quais os sentimentos embutidos nessas pessoas que conviviam conforme as regras e, depois de um acontecimento inusitado, passam a se desgarrar daquilo que a sociedade prega?
Platônico, em suas 231 páginas, tem muito a contar. O livro acaba, a história continua.
Escrito por MsBrown
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