Livro: Sentimento do Mundo
Publicação: 1940/Brasil
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Escrito entre 1935 e 1940, Sentimento do Mundo demonstra a tristeza do poeta perante os rumos que o mundo estava levando, com a Segunda Guerra Mundial, o Estado Novo e a ignorância dos brasileiros ao caos mundial. Com os poemas tão tristes e irônicos, Drummond, que naquela época trabalhava como funcionário público, ou seja, para o Estado Novo, encontrava em sua poesia seu escape, em que podia escrever sobre o que pensava. A visão pessimista do futuro é bem clara e a ironia está sempre presente. Drummond de Andrade estava dizendo, em seus versos "Não negligenciem isso ou aquilo, prestem atenção no mundo em que você está vivendo".
O primeiro poema é Sentimento do Mundo, que fala sobre a guerra, sem ser necessariamente a Mundial, mas a que cada pessoa vive todos os dias, tentando sempre superar os problemas da vida mas, de um modo ou de outro, o que sobra é a visão negativa do futuro, o "amanhecer mais noite que a noite".
(...)
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
Em Tristeza do Império, Drummond apresenta os "conselheiros", aquelas pessoas que deveriam cuidar do país e estar sempre atento ao que estivesse acontecendo, como egocêntricos, preocupados apenas com os prazeres que as mulheres os davam.
Os CONSELHEIROS angustiados
ante o colo ebúrneo
das donzelas opulentas
que ao piano abemolavam
“bus-co a cam-pi-na se-re-na
pa-ra li-vre sus-pi-rar”,
esqueciam a guerra do Paraguai,
o enfado bolorento de São Cristóvão,
a dor cada vez mais forte dos negros
e sorvendo mecânicos
uma pitada de rapé,
sonhavam a futura libertação dos instintos
e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático.
ante o colo ebúrneo
das donzelas opulentas
que ao piano abemolavam
“bus-co a cam-pi-na se-re-na
pa-ra li-vre sus-pi-rar”,
esqueciam a guerra do Paraguai,
o enfado bolorento de São Cristóvão,
a dor cada vez mais forte dos negros
e sorvendo mecânicos
uma pitada de rapé,
sonhavam a futura libertação dos instintos
e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático.
Em Canção do Berço, a visão do poeta é tão pessimista que chega a destruir o futuro por acidente.
(...)
Os beijos não são importantes.
No teu tempo nem haverá beijos.
Os lábios serão metálicos,
civil, e mais nada, será o amor
dos indivíduos perdidos na massa
e só uma estrela
guardará o reflexo
do mundo esvaído
(aliás sem importância).
Drummond de Andrade também homenageia o poeta Manuel Bandeira, alegando que, em seu cinquentenário, quase ninguém o percebe por estarem envolvidos em seus próprios problemas. Abaixo temos um trecho de Ode ao Cinquentenário do Poeta Brasileiro:
(...)
E
enquanto homens suspiram, combatem ou simplesmente ganham dinheiro,
ninguém
percebe que o poeta faz cinquenta anos,
que o
poeta permaneceu o mesmo, embora alguma coisa de extraordinário se houvesse
passado.
(...)Em Os Ombros Suportam o Mundo, o poeta percebe que é uma das únicas pessoas que ainda se importa com o mundo e, independente do que ele pense, tudo continua.
(...)
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
(...)
Em Mundo Grande, Drummond admite que não há muito o que ele possa fazer mas que é um tanto impossível ficar impassível diante dos acontecimentos.
(...)
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens.
as diferentes dores dos homens.
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.
(...)
Sentimento do Mundo contém 28 poemas. É realmente difícil analisar uma obra poética, por causa das metáforas, das entrelinhas, mas aqui foi considerada a época em que o autor escreveu - o que justifica também a importância desses versos. O livro é pequeno, de linguagem muito simples e está sendo cobrado nos vestibulares da USP e da Unicamp. Mas recomendo também a aquelas pessoas que apenas querem apreciar uma boa poesia, e se indignar ao notar que os problemas de 1940 são semelhantes aos de hoje.
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo.
e o sentimento do mundo.
Tenho vontade de ler esse livro... agora que você falou, vou buscar encontrá-lo na biblioteca da universidade em que estudo.
ResponderExcluirUm abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br
Legal! Espero que não se decepcione (embora isso seja quase impossível, afinal, estamos falando do Carlos Drummond de Andrade).
Excluir