Bonequinha de Luxo, do diretor Blake Edwards |
Todos já sabemos que as adaptações literárias para o cinema não são exatamente fiéis. Às vezes, é preciso reduzir a trama e detalhes são deixados de lado para que os momentos mais importantes caibam nos minutos do filme, outras vezes é necessário ocultar trechos por causa da censura que pode ocorrer. Na adaptação de Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's), de Truman Capote (leia a resenha aqui), para o cinema com o diretor Blake Edwards, em 1961, ocorre algumas alterações.
A história é sobre um escritor, Paul "Fred" Varjack, que se torna vizinho de uma prostituta de luxo, Holly Golightly - garota liberal, que vive sozinha em Nova York, gosta de ir à Tiffany's (joalheria) para se sentir bem e está a procura de homens ricos para sustentá-la.
O livro causou escândalo quando lançado. Se fosse adaptado extremamente fiel à obra de Capote talvez seu sucesso estivesse de vez condenado. No livro, há a sugestão de que Paul é homossexual e Holly, bissexual. No filme, entretanto, eles criaram uma nova personagem no intuito de tirar a homossexualidade de Paul: uma decoradora, sua amante, que o sustenta. A relação entre os personagens principais também se altera, passando de amizade apenas no livro para o amor romântico no filme.
Os personagens Paul, Holly e a decoradora "amante"que não deveria existir |
Truman Capote, o autor, queria para o elenco Marilyn Monroe como Holly, por esta atriz fazer papéis que mais lembram a personagem: liberal, sensual. Mas quem ficou com o papel foi Audrey Hepburn, por insistência do diretor Blake Edwards. De acordo com Sam Wasson, que escreveu Quinta Avenida, 5 da Manhã (bastidores do filme e como a obra contribuiu para transformar a moda e outros), "uma mulher tão bela e respeitável como Audrey mostrava ser possível representar uma jovem que aprontava sem ser vista como uma menina má." Deste modo, as alterações fazem de Audrey não uma atriz que decidiu aceitar o papel de uma prostituta de luxo, mas de uma grande atriz que foi capaz de transformar os preconceitos em um filme romântico.
O pretinho básico imortalizado por Audrey Hepburn |
O ator que encarnou Paul Varjack foi George Peppard, contribuindo para uma das cenas mais incríveis do filme, já no final, envolvendo um temporal, um gato recém-abandonado e, claro, Holly. E agradou o público feminino também o figurino assinado por Hubert de Givenchy, que imortalizou o vestido pretinho básico. As roupas, os óculos, a piteira são indicadores que Holly é alguém que mantém certa distância de tudo, coisa que pode ser derrubada mais em frente no filme. No livro a conclusão é vaga.
Paul –Sabe
qual é o seu problema, Srta. Quem-quer-que-seja? Você é medrosa. Não
tem coragem. Tem medo de encarar a realidade e dizer “A vida é um fato.
As pessoas se apaixonam sim e pertencem umas às outras sim, porque esta é
a única chance que têm de serem realmente felizes”. Você acha que é um
espírito livre, selvagem e morre de medo de ser enjaulada. Bem, querida,
você já está nessa jaula. Você mesma a construiu. E ela não fica em
Tulip, Texas ou em Somaliland. Ela está em qualquer lugar que você vá.
Porque não importa para onde você corra, você sempre acaba trombando
consigo mesma.
Bonequinha de Luxo, o filme, foi o vencedor do Oscar em duas categorias (melhor trilha sonora de comédia/drama e melhor canção original por Moon River, de Henry Mancini, cantado por Audrey Hepburn) e indicado por melhor atriz (Audrey Hepburn), melhor roteiro adaptado e melhor direção de arte, além de indicações ao Globo de Ouro por melhor atriz e melhor filme musical/comédia, e vencedor do Grammy por melhor trilha sonora de cinema/tv. Recomendo o livro e o filme, pois ambos são deliciosos de se ler e assistir.
A cena final de Bonequinha de Luxo |
Audrey Hepburn canta Moon River, canção que venceu o Oscar |
Escrito por MsBrown
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