"A arte é uma magia que liberta a mentira de ser verdadeira" Theodor Adorno

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães


— (…) A escrava também
tem coração, e não é dado ao senhor querer governar os seus afetos.
— Afetos!... quem fala aqui em afetos?! Podes acaso dispor deles?...
— Não, por certo, meu senhor; o coração é livre; ninguém pode
escravizá-lo, nem o próprio dono.
(GUIMARÃES. A Escrava Isaura)

Escrito por Bernardo Guimarães (08/1825-03/1884), A Escrava Isaura foi lançado em 1875, pela Casa Garnier, do Rio de Janeiro, e contribuiu para a fama do autor. Em 1875 ocorria a campanha abolicionista, e se evidencia no livro ideais liberais incutidos no personagem Álvaro (par romântico de Isaura). Bernardo Guimarães, abolicionista, criou o livro da propaganda da libertação dos escravos, o que foi um ato corajoso em pleno regime servil escravista.
No entanto, para cair no gosto popular, Guimarães criou a personagem Isaura, filha da escrava Juliana e do feitor Miguel, que é descrita com adjetivos exageradamente românticos, pois eram as mulheres da sociedade, naquela época, que liam livros de histórias de amor. Isaura não poderia ser negra, já que a realidade de negros serem maltratados nas fazendas não amansava nem causava empatia no coração do público alvo.


A Escrava Isaura pela editora Martin Claret,
Coleção A Obra Prima de Cada Autor

Isaura recebeu boa educação, já que era a protegida de sua senhora, mulher do Comendador Almeira (dono da fazenda no município de Campos de Goitacases), porém essa senhora falece, deixando a escrava à mercê do Comendador. O dono da fazenda é descrito como “libidinoso e sem escrúpulos”, que tinha interesses sobre a mãe de Isaura. Seu filho, Leôncio, herda algumas características do pai, sendo descrito como “devasso e cruel”. Leôncio é o antagonista desse romance, e possui uma paixão “febril e delirante”, como se observa no trecho seguinte, retirado do Capítulo 9:

Leôncio impaciente e com o coração ardendo nas chamas de uma
paixão febril e delirante não podia resignar-se a adiar por mais tempo a
satisfação de seus libidinosos desejos.
(GUIMARÃES. A Escrava Isaura)

Outros personagens também se oferecem para serem amantes de Isaura, como Henrique (irmão de Malvina, esposa de Leôncio) e Belchior (jardineiro disforme), ainda no início do livro. Henrique descobre que Leôncio quer a escrava e conta para Malvina, que oferece uma escolha para o marido, por fim: ele tem de optar por ela (Malvina) ou Isaura. Aparece em cena Miguel, com a quantia de dinheiro exigida pelo Comendador Almeida para a libertação de sua filha, porém recebem a notícia que o Comendador acaba de falecer, deixando a posse da escrava amada para Leôncio.
Nos ares fúnebres, Malvina passa algum tempo na casa de seu pai, dando liberdade para Leôncio perseguir a escrava. Mas Isaura não cede aos apelos de seu senhor, o que resulta num ultimato: ou ela atende suas necessidades ou será morta. Miguel sugere à filha que fujam imediatamente, e eles seguem para Recife, onde mudam de nome.
Isaura agora é Elvira e Miguel se torna Anselmo. Vivem reclusos da sociedade, porém Álvaro, bom homem, rico e liberal, os descobrem. Álvaro se apaixona por Elvira e é correspondido, mas não sabe que a moça é escrava fugida, fato que a angustia por ter de mentir.

Este livro contribuiu para disseminar ideais numa das fases mais importantes do Brasil e mostra audácia ao se criar todo o romantismo, a fim de conectar com o público, manipulá-lo (no caso daquela época) de maneira tão eficaz. 
Bernardo Guimarães não teve a sorte de viver em 13 de maio de 1888, quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, extinguindo a escravidão do país, mas contribuiu para a popularização do sentimento anti-escravista.

CURIOSIDADES

·         A Escrava Isaura já foi comparado com o romance estadunidense Uncle Tom’s Carbin (1852), da escritora Harriet Beecher Stowe, pois este último retratava o sofrimento dos escravos nas terras do sul dos Estados Unidos. Difere do romance brasileiro, pois não possui o idealismo romântico, porém serviu como arma para a causa abolicionista.

·         A Escrava Isaura foi transformado em filme mudo, em 1929, pela Metrópole Films, com realização de Isaac Saidenberg e direção de Antônio Marques Filho. Estrelando Elisa Betty como Isaura, Ruty Gentil como Malvina e Ronaldo de Alencar como Álvaro.


·         O segundo filme foi realizado por U.C.B em 1949 e dirigido por Eurides Ramos, tendo no elenco Fada Sontoro como Isaura, Graça Mello como Leôncio e Cyll Farney como Álvaro. Em 30 de dezembro de 1949, na véspera da estreia, o cinema Odeon exibiu uma sessão dedicada somente às Isauras, e o ingresso era apenas a comprovação de identidade. Duas mil Isauras comparecem ao Odeon.


·         O romance foi adaptado por Gilberto Braga para a televisão em 1976 a 1977, transmitido pela Rede Globo. Dirigido por Herval Rossano e Milton Gonçalves, estrelado por Lucélia Santos como Isaura, Rubens de Falco como Leôncio e Edwin Luisi como Álvaro. Essa novela ganhou espaço mundial, sendo comprada por aproximadamente 150 países e impulsionou a venda dos livros.


Boletim do lançamento da novela da
Rede Globo (1976-1977)

·         Novamente na televisão de 2004 a 2005, A Escrava Isaura foi produzida pela Rede Record, adaptada por Tiago Santiago e Anamaria Nunes, com colaboração de Altenir Silva. Dirigida por Herval Rossano, Fábio Junqueira, Emílio Di Biasi e Flávio Colatrello Jr. e estrelada por Bianca Rinaldi como Isaura, Leopoldo Pacheco como Leôncio e Theo Becker como Álvaro.
A Escrava Isaura, novela da Rede Record (2004-2005)

Escrito por MsBrown

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