Não se sabia bem onde nascera, mas não fora
decerto
em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará.
Errava quem
quisesse encontrar nele qualquer regionalismo:
Quaresma era antes de tudo
brasileiro.
(BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma, pag. 18)
Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi primeiramente publicado em folhetins no Jornal do Commercio, em 1911 e em livro em 1915. A história apresenta Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, um adorador do Brasil, um patriota que tem planos de devolver ao país as mais antigas tradições.
Se a língua
definitivamente brasileira era o tupi-guarani, o correto seria toda a população
ter como língua oficial o tupi-guarani. Cumprimentar conhecidos com as mãos?
Não, o mais aceitável seria chorar ao
ver conhecidos, pois essa era a tradição dos tupinambás. A moda de viola, o
estudo dos rios, agricultura, indígenas, tudo isso era de pleno interesse para
Quaresma, que estudava tudo o que fosse relacionado ao Brasil. Esse
patriotismo, no entanto, foi capaz de transformá-lo num quase recluso da
sociedade,
motivo de riso entre todos e mesmo onde trabalhava como
subsecretário no Arsenal de Guerra.
Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto |
O narrador que
não participa dos eventos conta-nos a história parecendo estar preocupado com
Quaresma, quase como se quisesse dizer “Não seja tão radical”. O que se espera
de alguém que age da maneira com o que o major agia, sempre enaltecendo a
pátria e esquecendo-se de conviver mais com as pessoas e tentar entendê-las em
sua vontade de não ser como ele, de não ser 100% nacionalista?
Outras
personagens têm destaque. Ricardo Coração dos Outros é o tocador de viola e
compositor, que tenta ensinar a Quaresma esta arte; Olga, a afilhada do major,
que nutre por ele um carinho especial porém é um tanto distante do mesmo; o marechal Floriano Peixoto (retrata a participação de Quaresma na Revolta Armada, fazendo parte da tropa de Floriano. O conflito ocorreu em 1893-1894, liderado pela Marinha Brasileira contra o presidente Floriano Peixoto) e a que mais
me chamou atenção foi Ismênia, filha do general Albernaz, o vizinho, por ter
sido ensinada implicitamente em toda a sua vida que o casamento era a coisa
mais importante que lhe poderia acontecer e por isso ela não se conecta a nada
além, nem aos sentimentos de amor… Você pode saber mais sobre a história (com "spoilers") clicando aqui.
Triste Fim de Policarpo Quaresma é um
romance de crítica à história do Brasil. Quaresma é internado num hospício num
dado momento da narração e por volta de 1915 o autor Lima Barreto, depressivo e
alcoólatra, é internado no Hospício Nacional de Alienados. Coincidência…?
Conheci a obra
através de uma indicação e li porque é um importante livro da literatura
brasileira. Durante o tempo de leitura, eu estava muito distraída e deve ser
por isso que não consegui me envolver tanto com as desventuras de Quaresma,
porém reconheço a importância histórica, os sentimentos tratados aqui e o
recomendo para qualquer pessoa que, com a mente aberta para entender que o fim
é triste mesmo, queira conhecer mais
desse Brasil antigo.
Desde os dezoito anos que o tal patriotismo lhe
absorvia
e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades.
Que lhe importavam
os rios? Eram grandes? Pois que fossem…
Em que lhe contribuiria para a
felicidade de saber o nome
dos heróis do Brasil? Em nada… O importante é que
ele tivesse sido feliz. Foi?
(BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma, pag. 245)
Escrito por MsBrown
Esse livro está na minha lista de desejados há meses.
ResponderExcluirVou te confessar que uma das coisas que mais gosto em você/seu blog, é o excelente gosto para livros que você possui.
Esse é um clássico.
Pode deixar que sua sugestão está acatada, quero conhecer esse Brasil antigo, haha,
beijos,
ser-escritora.blogspot.com.br